Hoje nosso artigo é sobre a importância de um dentista na UTI, principalmente nesses tempos de pandemia com o surgimento do Covid 19.

Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) o paciente está mais exposto ao risco de infecção, é constatado que os pacientes têm um aumento de cinco a dez vezes de contrair infecção.

A saúde bucal faz parte da saúde integral do paciente. Os pacientes hospitalizados portadores de afecções sistêmicas muitas vezes se encontram totalmente dependentes de cuidados, portanto, impossibilitados de manter uma higienização bucal adequada, necessitando do suporte de profissionais da saúde para esta e outras tarefas.

A literatura tem demonstrado a influência da condição bucal na evolução do quadro dos pacientes, as bactérias presentes na boca podem ser aspiradas e causar pneumonias de aspiração. A pneumonia é uma infecção debilitante, em especial, no paciente imunocomprometido.

A necessidade de tratamento intensivo em pacientes oncológicos tem aumentado. A própria neoplasia pode ocasionar complicações clínicas com risco imediato de vida, como na síndrome da lise tumoral espontânea (A síndrome da lise tumoral (SLT) é uma emergência oncológica que é associada com número cada vez maior de tipos de câncer. Caracteriza-se por um conjunto de manifestações clínicas resultantes da destruição maciça de células malignas, com consequente liberação do seu conteúdo no espaço extracelular), ou a compressão tumoral( A compressão medular aguda é uma complicação de potencial devastador, que pode ser causada por diferentes etiologias de doenças que envolvem a coluna vertebral e estreitam o canal espinal, em particular as neoplasias metastáticas, e podem causar perda neurológica irreversível.), que pode causar insuficiência respiratória, renal ou obstrução intestinal, levando o paciente à internação em UTI. Uma das mais importantes complicações das que se listam durante internação em unidades de terapia intensiva (UTIs) é a pneumonia hospitalar, também denominada pneumonia nosocomial, que segundo o Ministério da Saúde, é qualquer infecção adquirida após hospitalização do paciente.

A pneumonia nosocomial representa uma das infecções mais frequentes tendo sido foco de grande preocupação aos profissionais de saúde e aos órgãos públicos (10- 68%), perdendo somente para a infecção urinária. Atualmente, tem apresentado grande impacto público pelo fato dessas infecções ocasionarem altas taxas de morbidade e mortalidade, podendo atingir até 80% dos pacientes, além de provocar impacto expressivo aos custos hospitalares, podendo atuar como fator secundário complicador, prorrogando em média de 7 a 9 dias a hospitalização.

Se o paciente intubado não receber higiene bucal eficaz, o tártaro dentário, formado por depósitos sólidos de bactérias, se estabelece dentro de 72 horas. Apesar da importância dos cuidados com higiene oral em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), estudos e revisões sistemáticas mostram que esta prática ainda é escassa.

A presença da placa bacteriana na boca pode influenciar as terapêuticas médicas, devido aos fatores de virulência dos micro-organismos que nela se encontram, os quais podem ser agravados pela presença de outras alterações bucais, como a doença periodontal, cáries, necrose pulpar, lesões em mucosas, dentes fraturados ou infectados, traumas provocados por próteses fixas ou móveis que podem trazer para o paciente repercussões na sua condição sistêmica.

Para estas condições serem adequadamente tratadas, faz-se necessário a presença de um cirurgião-dentista em âmbito hospitalar como suporte no diagnóstico das alterações bucais e na equipe da terapêutica médica; seja na atuação em procedimentos emergenciais frente aos traumas, em procedimentos preventivos quanto ao agravamento da condição sistêmica ou o surgimento de uma infecção hospitalar, procedimentos curativos e restauradores na adequação do meio bucal e maior conforto ao paciente.

Segundo o artigo 18 do Código de Ética Odontológico, capítulo IX, que trata da Odontologia hospitalar, compete ao cirurgião-dentista internar e assistir pacientes em hospitais públicos e privados, com e sem caráter filantrópico, respeitadas as normas técnico-administrativas das instituições. No artigo 19, dispõe-se que as atividades odontológicas exercidas em hospitais obedecerão às normas do Conselho Federal e o artigo 20 estabelece constituir infração ética, mesmo em ambiente hospitalar, executar intervenção cirúrgica fora do âmbito da Odontologia.

A avaliação da condição bucal e necessidade de tratamento odontológico em pacientes hospitalizados exigem o acompanhamento por um cirurgião-dentista habilitado em Odontologia Hospitalar.

Sabe-se que os cuidados bucais, quando realizados adequadamente, reduzem muito o aparecimento de pneumonia associada ao uso de ventilação artificial, nos pacientes em UTI. A participação da Odontologia na equipe multidisciplinar de saúde é de fundamental importância para a terapêutica e a qualidade de vida dos pacientes hospitalizados.

A maioria dos hospitais ainda não dispõe de Odontologia Hospitalar em caráter obrigatório no Brasil. A assistência Odontológica pode ajudar a salvar vidas. No contexto pandêmico essa necessidade se agravou, quanto mais tempo de intubação, mais lesões e infecções na boca podem aparecer, aumentando o risco para o paciente. Existem 5 mil municípios no Brasil e há hospitais na grande maioria deles, e em pouquíssimas cidades, há um Cirurgião-Dentista colaborando com a saúde pública no Brasil.

 Foram feitos estudos que comprovam que esse vírus da covid-19 entra pela via aérea, passa pela cavidade bucal onde tem uma carga viral muito grande e, se não houver um cuidado com as bactérias e micro-organismos, ele acaba indo para o pulmão o que poderá provocar uma pneumonia que poderá trazer um agravo grande ao paciente e até o óbito. Com o protocolo de higiene oral, há uma diminuição da quantidade de pneumonias em até 60%.

De acordo com o Conselho Federal de Odontologia, em todo o Brasil, são cerca de dois mil Cirurgiões-Dentistas hospitalares. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, apenas oito hospitais têm Cirurgiões-Dentistas disponíveis em UTIs. O Hospital Universitário de Campo Grande implantou o serviço em 2015. Desde então, conseguiu reduzir em 75% as pneumonias associadas à ventilação mecânica.

De acordo com a Cirurgiã-Dentista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Hospital Auxiliar de Suzano e Instituto Central), Juliana Franco, o Cirurgião-Dentista nunca foi tão necessário como agora: “O paciente hospitalizado e que tenha assistência odontológica durante a sua internação tem uma recuperação, uma reabilitação muito maior do que o paciente que não tem assistência odontológica.”

A mobilização do Sistema Conselhos de Odontologia pela regulamentação da Odontologia Hospitalar acontece no Congresso Nacional desde a tramitação do PLC 34/2019. O Projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado, no entanto, em junho de 2019, ele foi integralmente vetado pelo Presidente da República. Com isso, o trabalho segue intenso por meio do Projeto de Lei 883/2019, que torna obrigatória a presença de profissionais de odontologia nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e demais unidades hospitalares de internações prolongadas.

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